segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A vida é cheia de som e fúria!!!

Admito ser muito complicado puxar pela memória o primeiro contato com música que realmente me marcou.

É claro que todos aqueles discos infantis fizeram parte da minha vida, como Arca de Noé, Saltimbancos, disquinhos de histórias da Disney, Balão Mágico, etc. De qualquer forma, ainda que tenham sido elementos importantes na minha formação, certamente não determinaram a qualidade daquilo que iria ouvir no futuro.

Me lembro de sempre fuçar no aparelho de som de casa e nos discos que ali estavam disponíveis. Tinha muita coisa interessante, ainda que na época eu tivesse alguns preconceitos. Me lembro muito bem de LPs e K7s de Milton Nascimento, Belchior, Ray Conniff, umas coisas latinas, um pouco de música clássica, Beatles e Tropicália (alguns desses LPs hoje integram minha estimada coleção). Mas desse acervo, o que mais me chamou atenção na época era uma fita do ABBA, cujas músicas costumava ouvir bastante, ainda que dando boas risadas. Havia também uma coletânea em K7 do Queen, que posteriormente seria muito explorada.

Esse passeio pela memória também me leva para a rádio FM, ouvida de forma totalmente passiva dentro do carro, seja em trajetos curtos ou em viagens mais longas, e que às vezes tinha suas ondas interrompidas pelas transmissões de jogos de futebol, que, a sua maneira, também marcaram muito. Nesse cenário, além das músicas que até hoje tocam nas Alfa Fms da vida, me recordo com muito carinho das canções de Guilherme Arantes, Lionel Richie e coisas do gênero. Isso sem falar em Elton John, um dos preferidos de meu pai.

Esses primeiros encontros com a música tiveram muita influência de minha mãe, pois era basicamente dela a discoteca que eu revirava, se não para ouvir, ao menos para admirar e estudar as capas dos álbuns.

Bom, não precisa nem dizer que fui criança na década de 1980, o que leva à clara conclusão de que todos aqueles sons fizeram parte da minha vida e criação musical.

Me lembro muito bem das transmissões do primeiro Rock in Rio, com meu pai me dizendo que Angus Young iria mostrar a bunda em tal música e me ensinando a fazer o famoso chifrinho com a mão.

Um pouco antes disso teve toda a repercussão do show do Kiss no Morumbi, ao qual eu não fui, mas me lembro muito bem de todas as lendas (satanismo, pintinhos esmagados e coisas e tal), que, para um garoto que crescia na Vila Leopoldina de então (para mim sempre será Lapa), e que estudava em colégio de freiras, eram assustadoras na medida exata entre o medo e a curiosidade.

Aliás, foi do Kiss o primeiro disco que me lembro de ter ganho. Na verdade, uma fita K7 do Creatures of the Night. Meu irmão mais novo ganhou o Lick it up.

Bom, voltando à cena musical dos anos 80, ainda que fosse muito criança para viver aquilo de verdade, os sons e imagens estavam lá para serem assimilados, seja pela rádio ou pela TV (como era divertido assistir ao Cassino do Chacrinha!).

O primeiro disco de rock brasileiro que ganhei (também um K7) foi o Dois, da Legião Urbana, ouvido à exaustão, especialmente o lado A. Engraçado como as coisas são, pois nessa mesma época meu irmão ganhou o Selvagem!, dos Paralamas, hoje para mim um disco muito mais querido que o Dois.

Não precisa nem falar de todo aquele synth-pop que tocava nas rádios e na TV, especialmente nos filmes de John Hughes, hoje clássicos absolutos da Sessão da Tarde.

É claro que a febre do RPM não passou despercebida, nem, anos depois, o pop de FM (Rádio Jovem Pan) eternizado por Pet Shop Boys, mas que na época fazia sucesso também com Erasure, Noel, Information Society, Rick Astley, Kyle Minougue e outros. Nessa época fui ao primeiro show na minha vida, do A-HA, no Parque Antártica.

De toda essa informação, uma realmente bateu e ficou para o resto da vida: New Order! Verdadeira febre em 1986 com o álbum Substance – pelo menos naquela quarta série de colégio classe média/média alta do Morumbi -, e que representou um “trauma” de não ganhar o tão sonhado disco, que era duplo (engraçado, pois até hoje não tenho esse álbum).

Cabe aqui um parêntese necessário, pois ainda não falei de Michael Jackson e Madonna. Quanto ao primeiro posso dizer com segurança que estava lá quando da febre de Thriller, ainda que não tenha me pegado de jeito. Já a Madonna, fui prestar mais atenção quando rolou aquele clipe do Like a Prayer, e depois me aventurei um pouco mais na obra anterior dela, nada mais significativo.

Bom, e assim foram os anos 1980 das primeiras paixões e de muitas referências.

Só que a bomba estourou mesmo foi nos anos 1990, afinal de contas é na adolescência e sua sequência que se segmentam os gostos e conhecimentos musicais.

Nesse contexto, não é preciso dizer que a MTV teve grande importância, mas, antes disso, um programinha da TV Gazeta abriu uma série de caminhos. Estou falando do Clip Trip, apresentado pelo locutor da rádio Jovem Pan Beto Rivera, com cerca de meia hora de duração, e que primava pelo absoluto ecletismo, ou, pode-se dizer, total falta de critério. Se por um lado o programa passava clipes de babas como New Kids On The Block e coisas do gênero, foi nele que vi pela primeira vez Guns and Roses e Metallica, por exemplo, sem contar toda a galera do rock inglês dos anos 80.



Assim, o final da década de 80 e início da de 90, para mim, foi um período pautado pelo hard rock americano e pelo “metal farofa”, gêneros que – mais especificamente o segundo – se hoje não passam de uma boa piada, na época foram importantes para sedimentar meu gosto e curiosidade por coisas boas. Confesso que o Bon Jovi foi o meu Beatles (rs)!

Nessa época meu pai apresentou grande contribuição, pois como sempre viajava para fora do país, quando voltava me trazia uns três ou quatro CDs, comprados com a ajuda dos vendedores das lojas, o que rendeu coisas como Aerosmith, Judas Priest e otras cosas más.

Depois veio o grunge – não me esqueço da sensação de ouvir Smells like teen spirit pela primeira vez, algo que se repetiu muito poucas vezes ao longo do tempo – e o U2 em sua fase Berlin (Achtung Baby e Zooropa), minha preferida até hoje.

Daí para frente foi só alegria, com a descoberta do chamado rock alternativo – todo crédito para os programas da MTV Lado B e 121, que era um programa apresentado pelo Thunderbird, gravado totalmente fora do estúdio, e sempre apresentando sons fantásticos - , jazz, Kraftwerk, toda a música jamaicana, e por aí vai.

Por fim, outro personagem fundamental na descoberta dos bons sons, meu grande – literalmente – amigo Fernandão, que me apresentou coisas como Mestre Ambrósio, Cowboy Junkies e Morphine, este último, aliás, cuja primeira audição vale um post inteiro. Infelizmente (ou não, sei lá) a vida mostrou caminhos diversos para esse grande amigo, que continua morando no meu coração, apesar das distâncias.

Não vou me alongar muito mais, pois a história não tem fim, basta dizer que tudo o que a TV e o rádio um dia representaram hoje migrou para a internet e suas infinitas fontes de informação.

É isso aí, essa é minha história, que ao longo do tempo virá fragmentada em outros posts por aqui.

Abs,

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