Aí galera MALUCA!!!!!
Passei o último feriado lendo a autobiografia do Lobão.
Antes de mais nada, cabe um necessário parêntese.
Minha história com a obra do Lobão é a seguinte:
Sem dúvida passei grande parte da minha infância ouvindo as canções do grande Lobo na década de 80. Ainda assim, sua obra não tinha despertado grandes arroubos fanatismo naquele tempo.
Mais ou menos 10 anos depois, já na faculdade, me lembro de descer para o litoral (coisa de paulistano) ouvindo um cd coletânea do Lobão em volume altíssimo.
E só nesse momento pude perceber o quanto todas as canções do disco estavam totalmente impregnadas na minha memória. E o melhor, já com certa maturidade (de gosto musical, inclusive), pude curitr muito mais aquela enxurrada de canções: Cena de Cinema, Me Chama, Revanche, Vida Bandida, Rádio Blá, Noite e Dia, o Roque Errou, Chorando no Campo, Decadence Avec Elegance, Canos Silenciosos, e por aí vai (acho que nem o Lulu Santos tem tantas músicas de sucesso na década de 80 quanto o Lobão!).
A partir dessa coletânea, e é bom lembrar que grande parte da discografia do Lobão estava – e permanece – fora de catálogo, cheguei aos discos Noite (que ganhei de aniversário do meu grande brother Victor) e Nostalgia da Modernidade (comprado a pouco mais de R$ 1,00 na liquidação de fechamento do finado Mappin.
Mas a bomba estourou mesmo quando, passando por uma banca de jornais no centro da cidade, em meados de dezembro de 1999, me deparei com uma revista que vinha acompanhada do novo disco do Lobo, A Vida é Doce.
O disco custava R$ 14,90 e naquele momento não gerou grande expectativa. Ocorre que, ao chegar em casa e colocar a bolachinha para tocar, me peguei completamente extasiado já nos primeiros acordes da primeira canção.
Aquele som me pareceu totalmente “inovador” no momento (ainda acho que é), e ao mesmo tempo era justamente o tipo de música brasileira que eu queria ouvir no momento: pop, climática, densa, doce e furiosa ao mesmo tempo.
O resto da audição não deixou o nível cair e ao final estava totalmente apaixonado por aquele disco.
A qualidade era tanta que me fez revisitar toda sua obra – da qual já gostava muito – com outros olhos.
Acrescente-se também um fator emocional relevante, pois na época eu vivia um momento pessoal particularmente delicado, e o clima do disco (Lobão o gravou durante um momento totalmente pesado, após uma tentativa de suicídio) caiu como uma luva. É importate mencionar aqui que a audição do disco ao longo do tempo, com o devido distanciamento dos fatores emocionais da época, não representou qualquer perda de impacto e qualidade daquele conjunto de músicas aos meus ouvidos.
A partir daí o contato com a obra do Lobão foi ainda maior e mais atento. Pude ver uma apresentação antológica no Centro Cultural de São Paulo, seguiu-se um disco ao vivo e outro petardo sonoro, Canções dentro da noite escura, também vendidos em bancas de jornal, e um polêmico Acústico MTV.
Depois de uma “carreira” como apresentador da MTV e do lançamento do livro, o cantor (ele prefere ser chamado de baterista) parece agora disposto a retomar com força seu ofício na música.
Tomara!
Aliás, não se pode deixar de reverenciar o lançamento do Box 81-91, que traz, em 3 cds, um apanhado de músicas feitas pelo artista no referido período. As canções foram escolhidas pelo próprio Lobão e remasterizadas por Roy Cicalla, que, para quem não sabe, é um lendário engenheiro de som que se estabeleceu recentemente no Brasil e trabalhou em diversos discos lendários, dentre os quais diversos de John Lennon, de quem era amigo e com quem trabalhou no dia em que este foi assassinado (voltava exatamente do estúdio quando foi baleado na porta de casa).
Para mim o Lobão é uma espécie de John Lydon da música brasileira.
Ainda que não tenha revolucionado a história da música, como fez Lydon, quando ainda se chamva Rotten e seus Sex Pistols (e também com o PIL), Lobão foi efetivamente um dos pioneiros da geração que fez explodir o rock no Brasil, nos anos 80, seja como baterista no início da Blitz, seja como artista solo.
Ele também foi um dos primeiros a misturar o formato mais engessado do rock com música braileira (gravou com Elza Soares, tocou com a bateria da Mangueira e por aí vai).
Por outro lado, sempre teve (tem) o controle criativo sobre sua obra, e sempre falou o que pensava (pensa), e pagou caro por isso, assim como Lydon.
Quanto ao livro, posso dizer que gostei bastante, mas com algumas ressalvas.
Os inúmeros capítulos dedicados à infância do autor, ainda que sirvam para compreender melhor a persona, poderiam ser reduzidos à metade ou menos, tornando o início da leitura um tanto quanto arrastado e cansativo (Lobão parece utilizar a feitura do livro para se reconectar e afastar alguns fantasmas do passado).
Agora, a partir do início da carreira musical a leitura fica impagável. São diversas histórias, umas hilárias, outras pesadas, outras bem instrutivas para quem conhece a obra do cantor.
O livro também traz, ao final de muitos capítulos, um levantamento feito pelo jornalista Cláudio Tognolli com as menções feitas na mídia a Lobão nas respectivas épocas. Esse expediente, segundo afirmam os autores, foi utilizado para dar veracidade e confiabilidade às memórias do cantor, mas depois de alguns capítulos passam a ser um tanto quanto cansativos, de modo que pulei a maioria desses anexos (que certamente merecerão uma leitura no futuro, quase como um novo livro).
Outro ponto de interesse, que deixei para um futuro próximo, são trechos de acórdãos (decisões judiciais) proferidos em diversos processos contra Lobão. Nesse caso, o interesse é também profissional, pois, nas “horas vagas” (RS), este blogueiro é também advogado criminalista.
As entrevistas ao final do livro também são bacanas, especialmente as de Elza Soares e Ritchie.
Bom, acho que é isso.
Recomendo a leitura do livro, que, com os devidos cuidados, pode ser bem divertida, e que certamente servirá para que muitos conheçam melhor essa figura intrigante e importante da música brasileira.
Abs. e shu bi du bi du dau dau dau!!!!!!!!!!!!!!!
...valeu bro...lembranças fortes...uma vida...
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