quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Diário de um Carnaval

Quem acompanha o blog sabe que escrevo pouco, quase nada para ser sincero, sobre minha vida pessoal.

Acontece que esse feriado de Carnaval foi tão proveitoso em termos culturais que não deu para não postar aqui um breve diário:

O pré carnaval começou bem, com a leitura da autobiografia do Gordom Ramsay, o chef celebridade britânico que ficou conhecido por suas estrelas no Michelin e sua delicadeza escocesa.


O livro, claro, não é nenhuma obra prima, e mesmo entre livros escritos por chefs, passa longe da qualidade dos livros do Anthony Bourdain, por exemplo. Ainda assim, a leitura é fácil e ágil, sem muitas delongas sobre a infância (difícil). O melhor do livro, na minha opinião, são os capítulos dedicados ao início de carreira e toda a luta para estabelecer um negócio próprio. No mais, nada muito interessante, e aqui admito que o capítulo dedicado ao irmão viciado passou longe de ser atrativo de leitura.

Uma pausa para os dois anos de minha filha e chega o final de semana.

De carnaval mesmo, apenas uns 15 minutos do desfile da escola Pérola Negra, da Vila Madalena, afinal, o enredo versava sobre minha querida Itanhaém (bom, a escola acabou sendo rebaixada, mas isso são outros carnavais, certo?).
A trilha sonora ficou mesmo por conta das crianças, e acabou prevalecendo um playlist dos Gorillaz e outro com marchinhas de carnaval.

Esse foi o hit do feriado:



Seguido de perto por esse:



Mas Tudo começou a pegar fogo mesmo com o artigo do Álvaro Pereira Júnior na Folha de São Paulo do sábado, que me instigou a baixar um app no IPad e começar a ouvir, quase ininterruptamente, a BBC6, ou 6music, para os íntimos.


A programação da rádio é incrível (parece um Ronca Ronca 24hs por dia). E ainda consegui pegar um programa apresentado pelo Don Letts (não conhece? Então procura na interne, vai!).

De volta ao Brasil, a folia também estava mesmo nas páginas dos livros, e o feriado foi dedicado a outro livro, dessa vez de Alberto Villas, jornalista e escritor.


Afinal, o que viemos fazer em Paris? é um relato autobiográfico do auto exílio imposto pelo autor, ao deixar, no início da década de 70, Belo Horizonte pela capital francesa. Formado por quatro partes, o livro é feito de pequenos fragmentos de memórias, o que torna a leitura bastante ágil, isso sem falar na qualidade do projeto gráfico. Nem o discurso anti ditadura, altamente batido, mas dentro do contexto histórico, torna a leitura chata.

A primeira parte, fragmentos da vida real, traz breves relatos sobre memórias da vida de um brasileiro em Paris nos anos 70.

Na segunda, saudade do Brasil, o autor relembra de objetos, produtos, comidas e lugares dos quais tem saudades no exterior. Francamente, a não ser que o leitor não tenha a mínima idéia do que se tratam os temas dessa segunda parte, sua leitura é totalmente indispensável, como de fato dispensada foi.

A terceira parte, trilha sonora, é dedicada aos discos, na grande maioria de música brasileira, recebidos pelo correio, comprados por lá mesmo, ou gravados em fitas K7. Muito bacana ver como a música foi parte essencial da vida de Alberto Villas, elo de ligação com o Brasil e forma de suportar da dura vida de imigrante. Isso sem falar do retrato fiel de uma época em que se comprava, ouvia discos.

A quarta e última parte, talvez a mais interessante, estilhaços de cartas na mesa, é composta de fragmentos de cartas enviadas ao Brasil. Aqui não são apenas memórias, mas a letra fria do momento. E não é que em uma carta de 20 de agosto de 1979 Villas conta sobre a experiência de um show do nosso mais que querido PIL em Londres? Abre aspas: “Fui a Londres e vi o show do Public Image Ltd, a nova banda do Joãozinho Podre dos Sex Pistols. Nunca tinha visto nada igual, um show muito louco.” O disco do PIL, aliás, é uma das bolachinhas gringas que ele menciona nas cartas trazer para o Brasil.

Em resumo, um livro bacana, interessante mesmo, e fácil de ler numa casa cheia de crianças brincando e pessoas vendo televisão após o por do sol, e antes de uns e outros episódios de Monty Phython Flying Circus.



Pausa nos livros para colocar em dia a pilha de DVDs da estante. Sangue Negro foi o eleito. O filme é ótimo e Daniel Day-Lewis é – não encontro outra palavra – foda!



Outro ponto alto veio de uma dica do Ronaldo Evangelista, no videocast Vintedoze () anterior ao carnaval, que resultou na leitura de um conto do Julio Cortázar, tirado do livro As armas secretas.


Nem vou adiantar muito, mas o conto, intitulado o Perseguidor, dedicado a Charlie Parker, narra a relação entre um jornalista/crítico musical/biógrafo e um músico de jazz/biografado. Muito bom mesmo, afinal de contas Cortazár é de altíssimo nível, e a cereja no bolo é uma passagem que trata sobre a passagem do tempo.

Esse conto ainda resultou em um disco, do argentino Ruben Barbieri, e um filme, que deverão ser degustados até o próximo final de semana, depois conto para vocês.




Ainda deu tempo de ler a matéria principal da MOJO com o New Order na capa.
Para fechar a tampa, uma passada de olhos em DVDs do programa do Jools Holland.


E que venha o próximo feriado, e que seja tão prolífico quanto esse.

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