terça-feira, 24 de abril de 2012

Sonic Youth, discografia comentada pt. 3


NYC Ghost & Flowers - 00



Custa a engrenar, talvez por suas introduções alongadas ou por suas continuas quebras. É um álbum sem ganchos. Mas a passagem do tempo soube jogar a seu favor e lhe outorgou um lugar privilegiado na discografia do grupo. Hoje soa quase como uma sinfonia experimental: oito movimentos que se enredam entre labirintos de guitarras, atmosferas espectrais e relatos urbanos. É o corolário de uma série de trabalhos paralelos que se fecharam com o duplo Goodbye 20th Century (1999). E é também a primeira parte da trilogia com Jim O’Rourke, que assume aqui como produtor. A influência do movimento beat se faz mais presente que nunca na arte da capa, de Burroughs.


Murray Street – 02



Agora com Jim O’Rourke como membro oficial da banda (e outra vez na produção, como no álbum anterior), tudo parece indicar que começa uma nova era sônica. Não apenas no campo musical, já que é o primeiro disco dos novaiorquinos logo após a queda das Torres, e aí está a arte da capa que pareceria fazer referência ao ocorrido, e o título, que assinala o lugar onde caiu um dos motores dos aviões sequestrados. A melomania da banda alcança dessa vez o folk progressivo dos anos 70 e as canções se expandem em vinhetas que vão desde o punk até um estranho épico de guitarras emaranhadas.


Sonic Nurse – 04



Esse é um dos picos de uma banda em constante movimento. A parceria com O’Rourke (músico e produtor, outra vez), e que deixaria a banda logo após o disco, alcança seu ponto justo em dez canções que conservam certa complexidade (outra vez infinitas partes e melodias que entram e saem), mas aumentam seu caudal melódico. Já no início com Pattern Recognition e Unmade Bad dizem tudo. Outros highlights: o krat de New Hempshire, I Love You Golden Blue e a cota de Ranaldo em Paper Cup Exit. Seu melhor disco em uma década.



Rather Ripped – 06



Com O’Rourke fora do barco, a nave sônica parece voltar a um rock de guitarras algo mais direto que em seus últimos trabalhos, e prova disso é o arranque a mil por hora com Reena, com Kim Gordon cantando como nunca (recordemos que afinação não é seu forte). E com cada novo disco o SY acresce novos aspectos ao seu espectro sonoro, dessa vez o forte está nas combinações harmônicas, inspiradíssimas, que permitem melodias novas ou ao menos curiosas em seu repertório. Grudentas como marmelada, as linhas – de guitarras, de voz – de Incinerate, do refrão de What a Waste, e toda Rats (Ranaldo, outra vez, no nível mais alto) se destacam num disco que está à altura do anterior.



The Eternal – 09



Um degrau a mais na carreira do quarteto, que muda de uniforme – da Geffen para a Matador – mas não perde o cabelo nem as manhas. Seu trabalho inflamável segue equilibrando pop e experimentalismo, mas agora a coisa apodrece um pouco, e a mão de John Agnello na produção enche de o grupo de aspereza. Canções que bem poderiam figurar em Evol ou em Sister dão conta de uma espécie de volta à fonte que, sem estar claramente entre o melhor de sua carreira, oferece momentos altos em canções como No Way ou Antenna.




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