segunda-feira, 28 de novembro de 2011

E por falar no FUTURA ...

Gosto tanto desse disco, ele foi (é) tão importante para mim que está literalmente estampado na minha pele.

Mas como não consigo, nem de perto, expressar com palavras o que penso e sinto sobre o disco, colo aqui o release escrito pelo Alex Antunes:

"A Nação Zumbi é uma banda intrigante: sempre muito fácil de se ouvir e de se gostar – e cada vez mais difícil de definir. Futura, seu sexto álbum, espécie de síntese brilhante desses treze anos de carreira, e marco de sua consagração como banda internacional, é também um disco avesso a classificações fáceis.

A presença do novaiorquino Scotty Hard como produtor dá a dica de um approach possível: Hard foi o engenheiro responsável por clássicos do hip hop como De La Soul Is Dead e Wu-Tang Forever. Ele já tinha roubado a cena mixando o álbum anterior da Nação.

Mas, por mais que Futura se aproveite da destreza tímbrica do gringo, de seus filtros ácidos e beats em planos bem-delineados, este não é um disco de hip hop – e nem sequer de electrorock. Na verdade, os usuais scratches foram substituídos por breves efeitos em equipamentos vintage (moog, rhodes, vocoder, casio, synkey; nos quais a banda e o produtor se revezam).

A Nação Zumbi se equilibra cada vez melhor entre o seu poderio rítmico inquestionável (sempre a cargo de Toca Ogan, Gilmar Bolla 8, Pupillo, Marcos Matias e Da Lua), e climas e melodismos cada vez mais ricos e imagéticos. A (est)ética grupal da Nação Zumbi na verdade parece conectar duas épocas de exuberância e generosidade social e cultural.

Cunhando o sensacional termo “psicodelia em preto-e-branco”, eles bebem cada vez mais na fonte groovy do início dos anos 70 (o dub, o soul-funk, o afrobeat, o nacionalíssimo samba-rock-soul, e até num quê das trilhas de Ennio Morricone ou de John Barry presente em algumas guitarras melífluas de Lúcio Maia) para projetar um futuro de tecnocoletivismos, de guerrilhas psicossônicas...

A Nação Zumbi é dona de um show poderosíssimo, testado e reverenciado nos palcos de festivais de todo o Brasil, da Europa e EUA (e que foi devidamente registrado num ótimo DVD). Ao vivo, o repertório mesclado de todas as fases se impõe pela força quase ritual da apresentação, e pelo impacto propriamente físico do som.

Futura, o novo álbum da Nação Zumbi, deve render várias músicas para o repertório standard do grupo. “A Ilha”, “Voyager” e a mística “Vai Buscar”, por exemplo, tem um poder de fogo funk-rock setentista, apoiado nos baixos turbinados de Dengue, com aquela pegada que faz da Nação o que ela é.

Mas Futura é variedade. “Na Hora de Ir”, inspirada pelo frevo e por Roberto Carlos, torna-se um drum’n’bass orgânico e cinematográfico, com o reforço da guitarra alternadamente jazzy e sci-fi de Catatau (Cidadão Instigado). Esse velho colaborador da Nação que comparece ainda no baião-blues psicodélico de “Pode Acreditar” e em “Memorando”, onde a malemolência do afrobeat e da ciranda é mais notável.
Os ritmos pernambucanos flertam ainda com o space-rock e o western-spaghetti em “Respirando”, e com o metal progressivo em “Sem Preço”, um acid-frevo cuja mistura inusitada de sopros (a cargo de Maurício Takara, do Hurtmold), guitarras e synth aproximam curio-samente a Nação Zumbi do Mars Volta.

O tal Morricone ainda contamina, entre outras, o dub-rock que dá título ao álbum, e “Hoje, Amanhã e Depois”, onde as congas alimentam uma certa pasión latina rebatida pelo vocoder (aquela voz de robô típica da disco). Já na lenta, climática e instrumental “Nebulosa”, o berimbau duela com a guitarra viajante. Finalmente, Kassin providencia beats de gameboy para o technosurf (!) “O Expresso da Elétrica Avenida”.

Futura pode ser considerado a conclusão da segunda trilogia do grupo, a “trilogia da afir-mação”. Se a primeira trinca (Da Lama ao Caos, 94; Afrociberdelia, 96; CSNZ, 97) cobre a fase bombástica e inicial da Nação, ainda com Chico Science, este segundo tripé iniciado com Rádio S.AMB.A. (2000) e continuado com Nação Zumbi (2002) chega agora ao seu ápice. A Nação Zumbi não tem mais nada a provar. Futura – CQD.

Em outra analogia brincalhona, a banda se define como um filme feito em parceria pelo cineasta-mascate Simeão Martiniano e por Jim Jarmusch. A diversidade de Futura é síntese não só da Nação Zumbi como banda em si, mas do seu constante caleidoscópio de iniciativas e projetos paralelos, em anos de know how adquirido em diferentes frentes.

Aí cabem desde a ótima trilha para o longa Amarelo Manga, a bem-sucedida carreira de produtor do baterista Pupillo, bandas paralelas como Los Sebozos Postiços e a Orquestra Manguefônica, até a experiência de Lúcio Maia como guitarrista da banda nu-metal de Max Cavalera.

Frequentemente disfarçados sob pseudônimos provocativos (Pixel 3000, Jackson Bandeira, Amaro Satélito, Djeiki Sandino, Nino Broccolli, Fortrex), os guerrilheiros da Tropa de Todos os Baques reafirmam seu recado. “Manifestando e contaminando pelos fones nunca surdos/ microfones nunca mudos/ através das entidades sampleadas que dançam o absurdo/ nos canteiros da galáxia nervosa/ falando com o ouvido do mundo/ plugue-se/ ligue-se e vá longe”.

Alex Antunes"

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