sábado, 21 de abril de 2012

Sonic Youth, discografia comentada pt. 1

Tradução minha para texto publicado na revista argentina Los Inrockuptibles n. 136, de junho de 2009.

Confusion is sex - 83



Antes, o caos. De pop, pouco ou nada nas primeiras faixas do quarteto, que começava a experimentar afinações extravagantes – aprendidas com Glenn Branca e sua trupe – para construir esses mantras catárticos carregados de feedback. Com um tal Jim Sclavunos e Bob Bert se alternando nas baquetas, Moore, Ranaldo e Gordon se enclausuraram em estúdio (pela segunda vez: a primeira gravação foi acidentalmente acidentalmente por um microfone magnetizado) e dão forma a meia hora de noise, em que aparece uma versão ultra ló-fi de I Wanna Be Your Dog (The Stooges) – constante nos primeiros shows – e o nome de Michael Gira (ex-Swans, hoje Angels of Light) assinando a letra de The World Looks Red, quase uma canção. A reedição de 1995 contém o EP Kill Yr Idols.

Bad Moon Rising – 85




Alarme falso: a belíssima introdução de pouco mais de um minuto, que parece prenunciar Teen Age Riot e o “o que virá” é pura ilusão de óptica. Brave Men Run apenas começa e já se pode ouvir que esse segundo disco repete as mesmas coordenadas que o primeiro. Só que agora as texturas são mais intensas (o final de Society is a Hole, o começo de I Love Her All the Time, toda Satan is Boring) e os estalidos de violência mais marcados (Death Valley’ 69, inspirada nos assassinatos do clã Mason, com a participaçãode Lydia Lunch na voz). A partir daqui, ponto final para o baterista Bob Bert e boas vindas para Steve Shelley, peça fundamental para começar a colocar a casa em ordem.

Evol – 86




Soa Tom Violence, Evol arranca e o impensado: sim, a cadencia harmônica até chega a emocionar. E isso? É uma canção. E isso será o Sonic Youth a partir de agora, senhores.A base está (melhor que nunca, com Shelley sentado ali) e a crueza também, mas agora há lugar para sutilezas e climas hipnóticos (a enorme Shadow of a Doubt, por exemplo, e essa voz de Kim Gordon que endiabrada), além das guitarras desencaixadas, claro. Aqui é onde conhecemos a voz de Lee Ranaldo (In The Kingdom #9, sua primeira assinatura) e onde estampam seu primeiro clássico Expressway to Yr Skull. Agora é só ascensão.

Sister – 87




Thuston canta de um lado do do falante e Kim o faz do outro. As guitarras retumbam e derretem tudo ao redor, enquanto eles repetem frases como “os anjos estão sonhando com você”, ou “tenho sua coroa de algodão”. Muitos devem ter se enamorado pelo Sonic Youth escutando Cotton Crown. Claro que, neste disco, há outro motivo para render-se à mais pura adoração: Schizophrenia, a canção que abre, com seu ritmo cavalgante e seus picos de tensão, é um dos momentos mais inspirados na história do grupo. Também estão lá Beauty Lies in the Eye e o cover de Johnny Strike, Hot Wire My Heart. Mas Sister é, sobretudo, o álbum onde todo o raro (afinações, feedbacks, dissonâncias) se torna funcional à melodia.

Daydream Nation – 88




Para muitos, sua obra prima. E é também o disco preferido da crítica, tão aclamado que foi capaz de despertar o interesse de uma multinacional (Geffen). Nenhum elogio será exagerado. Esse álbum, originalmente duplo, é um grande trabalho de consagração, onde se condensa melhor que nunca o que o grupo vinha buscando: aplicar sua escola pós punk e seus dotes experimentais à canção de rock. Vem deste álbum seu status de marco da música alternativa. São muitas as músicas para amealhar, começando por essa faixa maiúscula que é Teen Age Riot. Mas também há certo espírito conceitual que obriga a escuta-lo do começo ao fim. Uma e outra vez.

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