sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Conexão Brasil - Jamaica

É fato que a música brasileira é uma das mais ricas, importantes e influentes do mundo.

Já a música jamaicana começou a comer pelas beiradas em meados do século 20 e tem se mostrado também muito influente, especialmente com a popularização da chamada música negra no mundo. Aqui, por mundo, entenda-se principalmente Reino Unido, e sua imensa quantidade de imigrantes caribenhos propagaram sua cultura, e, em menor quantidade os EUA.

No Brasil, especialmente na última década, cresceu vertiginosamente a influência da música jamaicana em novos artistas, com o surgimento de uma - pode se chamar assim - cena com bailes e soundsystems.

Voltando um pouco a um passado relativamente recente, pode-se dizer que o primeiro sinal claro de influência da música da ilha feliz está no álbum Selvagem!, dos Paralamas do Sucesso, que não só trazia uns reggaes bem espertos, como, principalmente, os primeiros registros de Dub em discos brasileiros.



Além dos Paralamas – que seguiram contando com os bons sons da Jamaica, especialmente nos discos seguintes, Bora Bora e Big Bang – encontram-se ecos da música jamaicana em outros baluartes da geração dos 80, como os Titãs (especialmente nos dois primeiros discos), que inclusive regravaram algumas músicas jamaicanas que resultaram em Marvim e Querem Meu Sangue, e a própria Legião Urbana. Essa foi uma tendência da época – não apenas no Brasil, mas na Argentina – , fortemente influenciada pelo estouro das bandas da segunda onda do Ska na Inglaterra (já comentamos isso aqui).


Aqui com o auxílio mais que luxuoso de Mr. Jimmy "Ivanhoe" Cliff.



A geração de 90 também mostrou forte influência. O Skank começou fazendo reggae, teve também o Cidade Negra, com alguns trabalhos interessantes, e toda aquela praga de música de cachoeira que, sorry, se não tem valor artístico algum, ao menos formou um bom público. Ainda assim, duas bandas iniciadas na época merecem o devido crédito.

O Rappa é da mesma cena de reggae da Baixada Fluminense de onde veio o Cidade Negra e, ainda que tenha expandido os elementos de seu som a partir do segundo disco, nunca deixou de incorporar elementos sônicos jamaicanos em suas músicas. Destaco aqui o disco o Silência que Precede o Esporro, primeiro sem o Marcelo Yuka – aliás, um grande conhecedor do reggae e do dub – produzido por Tom Capone, e que carrega tons fortes de dub.




A outra banda não poderia deixar de ser a TODA PODEROSA Nação Zumbi. Maior entidade sônica da música brasileira, desde o primeiro disco incorporou o dub em seu som (Côco Dub), e após a morte do grande Chico Science só incrementou a presença dos sons enfumaçados. Aqui vale uma nota importante, foi a Nação Zumbi que me fez conhecer e literalmente pirar no dub!!!



Los Sebosos Postizos - Nação Zumbi tocando Jorge Ben e outros em versões jamaicanizadas:



Maquinado, projeto do guitarrista Lúcio Maia, da NZ, pagando tributo aos sons da ilha:



Menção mais que honrosa para o Reggae B, projeto de Bi Ribeiro, baixista dos Paralamas e responsável pelo som de baixo mais "gordo" da música brasileira:



E aí a coisa começa a ficar grandona, como toda uma cena de dub, especialmente no Rio de Janeiro, mais que representada aqui pelo Digitaldubs, em dois momentos: originale e prestando homenagem aos Paralamas:





Também do Rio, Marcelinho da Lua, do Bossacucanova, é outro que pega pesado no dub, tendo, inclusive, um disco remixado pelo dubmaster Mad Professor:



Aliás, a galera do Planet Hemp sempre presente, como se pode verificar dos vídeos acima, como Black Alien e BNegão!!!

Em São Paulo tem Echosoundsystem, Flora Mattos, Projeto Nave e toda uma galera fazendo um som de primeira.



Isso sem falar numa galera que está levando o ska e rocksteady muito a sério, como o excelente e instigante projeto Orquestra Brasileira de Música Jamaicana, do mega batera Fabinho Luchs:





E o Firebug, produzido pelo Victor Rice, novaiorquino radicado em sampa que manja tudo de música jamaicana, e aqui na companhia de Chris Murray, figuraça do ska lo-fi californiano:




É muita gente e muito pouco espaço...


Ainda assim, essa "cena" de música jamaicana no Brasil está restrita, ao menos por ora (tomara!) a um público específico e às já citadas influências. Contudo, há que se louvar o recente esforço da mega-cantora Vanessa da Matta, que gravou várias faixas de seu penúltimo disco na Jamaica, com diversos bambas de lá, como a, talvez, maior cozinha da história - ao menos a mais prolífica - Sly and Robbie, aproximando os maravilhosos sons da ilha do GRANDE público. (infelizmente não deu para postar vídeos aqui, pois nem a Vanessa da Matta nem sua gravadora acham que seja uma boa fonte de divulgação! Paciência)

Vejam o vídeo nesse link (http://www.youtube.com/watch?v=CXkaNkNxCSs), com especial destaque à reação dela na gravina da linha de baixo do Robbie. A minha seria, no mínimo igual! Engraçado o Sly Dumbar, como bom rude boy, chegando forte junto da cantora.

E se tudo meio que começou com o dub dos Paralamas, se consolida agora com dois projetos absurdos, um já lançado e outro no forno.

Sobre o segundo já falamos aqui, trata-se do Bambas Dois segundo disco do produtor Bid, que gravou muita coisa na Jamaica e fará um belo e importante mix dos sons da ilha com a música brasileira. Aqui o negócio é esperar e comentar (muito) quando sair:





E pra finalizar, não dá para não mencionar o filme Dub Echoes, feito pelo diretor carioca Bruno Natal (do blog Urbe) com a consultoria mais que especial do DJ Chico Dub, e que fez uma investigação muito séria sobre o dub jamaicano e sua influência na música de hoje, especialmente hip hop e eletrônica, gravado, além da Jamaica, nos EUA, Inglaterra e Brasil:



Bom, finalizo o post por aqui por dois motivos: (1) já está gigante e (2) o assunto é inesgotável. Peço de antemão desculpas aos mais versados por qualquer imprecisão técnica ou histórica, mas acredito que a idéia principal está condensada acima, com a certeza de que trata-se de uma história em construção.

Cheers and peace!

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